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Cultura em Cena

Bury the Bombo – O Bumbo Enterrado, a Música Ganhando Vida

A história de um bumbo calado, abandonado, completamente esquecido em um porão empoeirado por mais de 20 anos, esperando ser resgatado.

Éder Luiz

Éder Luiz

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Um bumbo calado, abandonado, completamente esquecido em um porão empoeirado por mais de 20 anos, esperando ser resgatado para, então, ganhar vida novamente.

Coincidências, encontros despretensiosos e o tempo — guardião da memória e escultor do destino — moldando e construindo histórias em caminhos que se cruzam e se entrelaçam, definindo novas jornadas.

Assim nasceu a Bury the Bombo, duo musical que mistura indie, folk, psicodelia e um quê de mágica, fundado por Camila Cremonini e Davi Matz. O nome? Enterrem o Bumbo.

Um símbolo do que se pode fazer com algo esquecido: trazê-lo de volta à vida, permitindo que sua voz brote do silêncio ao qual havia sido condenado.

“O Davi chegou com esse bumbo lindo, que tava enterrado no teatro há muito tempo, abandonado mesmo. E aí ele foi resgatado”, conta Camila, com seus olhos brilhando enquanto suas lembranças afloram carregadas de saudades.

“Cara, tem alguma coisa que é mais a nossa cara do que isso?”

Encontros que não se explicam

Davi e Camila se conheceram durante a Oliejho. Ela, estudante do Superativo, competia no teatro; ele era jurado. Ali, uma jornada começava a ganhar vida — sem avisos, em silêncio, sem que ninguém percebesse.

O fio da conexão ficou lá — assim como o bumbo — esperando o momento de ser resgatada e, então, explodir e ganhar vida.

“Um tempo depois, o Davi me mandou uma música que ele tinha escrito pra um filme de um amigo dele...”, lembra Camila.
“E aí surgiu a primeira música, Heaven’s on my Mind

Não havia verba, não havia estúdio — mas havia uma vontade imensa de dar vida àquilo tudo.
A primeira gravação foi crua, quase instintiva. Davi já tinha a letra pronta — só faltava a voz de Camila.

Quando ela entrou, a jornada que havia sido semeada silenciosamente no dia em que se conheceram,  explodiu, rompendo a escuridão da terra que a encobria e emergindo em direção à luz, fincando definitivamente suas raízes em suas histórias.

 “A gente foi vendo que estava surgindo um negócio assim, sabe... A gente estava se entendendo”, ela diz, como quem ainda se surpreende.

E então tudo começou a acontecer.

Um processo livre, cheio de acasos

Sem planejamento, as músicas surgiam do nada — ou melhor, surgiam de tudo que estava espalhado ao redor: de plásticos bolha, de ideias rabiscadas enquanto se esperava numa sala fechada, de desenhos de bumbos que viravam telescópios, de vozes que ecoavam personagens que elas mesmas inventavam.

“Foi tudo acontecendo assim, do nada”, resume Camila.

Davi lembra de dezembro de 2023 como o marco. Camila estava no último ano da faculdade de medicina, lidando com provas, pressão, e um desejo silencioso de respirar. A música virou essa válvula.

“Eu precisava de alguma coisa pra descansar a cabeça”, ela diz.

E descansaram juntos, um na ideia do outro. Não havia julgamentos. Todas as ideias eram acolhidas — “E se a gente gravasse esse som?” — e tudo virava som, tudo virava música. Até o som de bolha de plástico estourando virou o barulho de um meteoro queimando no céu.

Da intimidade ao palco

Com o tempo, aquilo que era só troca virou identidade. Nasceu o nome, nasceu a página, a logo — feita por Camila, com colagens aleatórias e muita intuição — e nasceu também o palco.

“Foi no projeto Na Teia, na praça de Herval, que virou a chave”, diz Camila.

O medo — esse sentimento que interrompe histórias — surgiu primeiro: quem vai querer escutar esse tipo de música na nossa região?

E então vieram os aplausos e o reconhecimento, sepultando definitivamente a insegurança sobre a resposta que o público daria.

“As pessoas começaram a se identificar”, conta ela. “Principalmente quando a gente toca no Bola, no Immich... o pessoal curte muito.”

O duo descobriu, então, que suas canções tocavam as pessoas: músicas tristes com arranjos alegres; músicas antigas voltavam com nova alma, e sentimentos guardados finalmente encontravam tradução.

Telescope Gaze: quando a arte encontra a dor

Entre todas, talvez a mais tocante seja Telescope Gaze. Nasceu num dia de espera. Enquanto Davi tentava resolver o uso de uma sala, Camila, sozinha, desenhou bumbos em série que pareciam um telescópio. E ali nasceu a música. Ela escreveu sem saber exatamente o que significava. Só depois entendeu: era sobre sua avó, diagnosticada com Alzheimer.

“Fala sobre isso, sobre se perder de quem se é... e você observar a pessoa ali, na sua frente, mas ela estar a milhões de anos-luz de distância.”

A música trouxe conforto. Trouxe também a viola, os arranjos regionais, o toque da terra natal. Quando Camila mostrou para a avó, a primeira reação foi:

“Nossa... viola.”

O improviso como regra

Sem equipamentos caros, sem home studio perfeito. O primeiro pop filter era uma mão na frente do microfone. Fones quebrados, clipes esquentados, fita adesiva, e a gambiarra movida pela paixão, criando tudo.

“Você escuta a música e nem imagina que foi feita assim”, diz Camila.

Não esperaram o “equipamento ideal” pra começar. O momento era aquele, e era preciso tocar adiante, com o que se tinha em mãos.

Bury the Bombo: mais do que um nome

No fim, o bumbo enterrado virou metáfora. Um objeto esquecido, agora o centro da cena. O símbolo de tudo que estava guardado e finalmente pôde emergir.

“É uma descoberta arqueológica”, brinca Davi.
“Estava abandonado por 20 anos. E agora é o centro de tudo.”

Camila sorri.

“A gente não pensou no resultado. A gente só estava no processo.”

E talvez esse seja o maior segredo de Bury the Bombo: permitir-se criar, sentir, errar, brincar, improvisar. Como quem escuta o som de um plástico bolha e vê ali uma fogueira, um meteoro, uma história pra contar.

Para conhecer mais a Bury the Bombo, clique aqui e acesse o Canal no Youtube!

Canal no Spotify

Instagram @burythebombo

 Texto escrito pelo produtor cultural Omar Dimbarre


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